Depois de meses de isolamento social, o coronavírus continua fazendo milhares de vítimas todos os dias no Brasil. Ainda assim, diversos estados já estão fazendo o relaxamento da quarentena, com muitas pessoas voltando às suas atividades normais, como trabalho, estudo e lazer.

Os primeiros estados a anunciarem um plano de reabertura do comércio e das instituições públicas foram São Paulo e Ceará, alguns dos que tiveram um maior número de casos. Na capital do Rio de Janeiro, as praias estão lotadas, com muitas pessoas frequentando quiosques e bares. No Sul do país, boa parte dos estabelecimentos já estavam funcionando há um bom tempo, de maneira restrita.

Mas será que é realmente hora de retomar às atividades? O que dizem os especialistas sobre o assunto? Pois bem, neste artigo mostramos como está a situação da pandemia do coronavírus no país e os possíveis impactos de um relaxamento da quarentena. Confira!

Qual é o atual contexto da pandemia no Brasil?

O coronavírus surgiu na China no final de 2019 e rapidamente se espalhou por todo o mundo. Hoje, praticamente todos os países registraram casos e mortes pelo vírus, que se mostrou um inimigo bem mais difícil de ser combatido do que se esperava.

No Brasil, os primeiros casos confirmados surgiram no início de março, sendo que a quarentena iniciou no fim do mês. No entanto, muitos acreditam que já havia casos desde janeiro e fevereiro, o que só contribuiu para acelerar o contágio no país.

O isolamento social foi implementado, seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que afirmou ser a única medida efetiva para reduzir o contágio. Porém, enquanto em muitos países houve um lockdown, ou seja, o fechamento total durante um tempo, por aqui, menos de metade da população ficou em casa, de fato. A maioria das pessoas continuou saindo para trabalhar ou fazer outras atividades.

Autoridades e cientistas alertaram para a possibilidade de colapso do sistema de saúde, uma vez que o número de doentes poderia ser bem maior que a capacidade de atendimento dos hospitais. Essa situação seria ainda mais complicada caso os pacientes precisassem ser entubados, ou seja, colocados em respiradores mecânicos, pois o país não contava com aparelhos suficientes antes da pandemia.

Passados pouco mais de 6 meses, o número de casos já é superior a 4,7 milhões, enquanto quase 150 mil pessoas tinham perdido a vida até o fim de setembro. Nesse momento, a curva de casos (representação gráfica diária de novos infectados) parece estável, com a maioria dos estados apresentando sinais de queda. No entanto, a quantidade de casos ainda é muito alta, apesar da estabilidade.

Enquanto o coronavírus fazia milhares de vítimas, a população se viu no meio de disputas políticas e comerciais. Não houve uma concordância entre os estados, municípios e o governo federal sobre as medidas a serem adotadas. Assim, enquanto em alguns lugares o isolamento social era intenso, em outros, o relaxamento na quarentena ocorreu em pouco tempo, ou ela nem sequer existiu.

Agora, a pandemia segue um caminho complicado, pois o contágio está se interiorizando. Praticamente todos os municípios brasileiros já têm pessoas contaminadas pelo coronavírus, sendo que muitas cidades do interior nunca chegaram a adotar o isolamento social.

O resultado é que o Brasil é atualmente o segundo país em número de infectados e de mortos por coronavírus, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Isso com os números oficiais, uma vez que os especialistas acreditam que o número de infectados possa ser 16 vezes maior que o registrado, a chamada subnotificação.

Por sinal, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, os estados que tiveram o maior número de mortes pela Covid-19, foram os primeiros a relaxarem a quarentena ainda no início de junho. Agora, todo o país começa a seguir o mesmo caminho.

O que é o relaxamento do isolamento social?

relaxamento da quarentena

Como já dissemos, o isolamento social é apontado como a medida mais efetiva para combater a epidemia. Consiste no afastamento das pessoas de sua rotina normal, ficando confinadas em casa sem contato com outras. Enquanto isso, os estabelecimentos comerciais não essenciais, as escolas e repartições públicas devem permanecer fechadas.

Apenas supermercados, padarias, açougues e postos de gasolina devem ficar abertos, desde que com acesso restrito e a adoção de medidas sanitárias, como o uso de álcool em gel e máscara pelos funcionários e clientes. Lojas de roupas e sapatos, bares, restaurantes, academias de ginástica, além das escolas e faculdades, deveriam ficar fechados, pois tendem a aglomerar pessoas. Ou seja, o isolamento social é caracterizado pela necessidade de se evitar aglomerações.

Pelo contrário, o relaxamento no isolamento social representa a reabertura de inúmeros estabelecimentos comerciais, escolas e órgãos públicos. Trata-se de uma retomada nas atividades, desde que sejam atendidos protocolos específicos de segurança. Essa flexibilização ocorreria gradualmente, de acordo com os níveis de contaminação e de mortalidade do vírus.

Quais são os impactos do relaxamento do isolamento social de acordo com os especialistas?

Segundo as recomendações da OMS, o relaxamento na quarentena deveria ocorrer de modo parcial, a partir do momento em que uma cidade ou estado registra uma taxa de contaminação inferior a 1%. Ou seja, uma cidade com cerca de 100 mil habitantes só deveria ter mais flexibilidade a partir do momento que tivesse, no máximo, mil pessoas infectadas naquele momento.

Essa não é a situação da maioria dos estados e municípios que começaram a reabertura. Pelo contrário, grande parte reabriu o comércio mesmo com altos níveis de contaminação. Os especialistas alertam para uma nova onda de casos, se a flexibilização for total e as medidas sanitárias forem negligenciadas.

Inclusive, muitos países da Europa, como a Espanha e a França, vivem um novo surto de infecção depois da retomada das atividades. Alguns deles, como o Reino Unido e a Alemanha, já falam em voltar ao lockdown, ou pelo menos, fechar parte do comércio e as escolas.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) acreditam que possa ocorrer um crescimento de 150% no número de pessoas com Covid-19 depois do relaxamento na quarentena nos estados. A conclusão foi baseada nas experiências de Milão, na Itália, no início do ano. Depois do relaxamento no isolamento social, houve uma explosão de casos na cidade, que se espalhou rapidamente por todo o país, um dos mais impactados na Europa e o primeiro a registrar casos da doença fora da Ásia.

Esse salto também aconteceu em Blumenau (SC), que teve um crescimento de 160% no número de casos de Covid-19 depois da flexibilização da quarentena. Para os pesquisadores da USP, se o isolamento social, que atualmente está em torno de 50%, ficar abaixo de 25%, podem acontecer 11 mil casos a mais que o esperado em apenas 10 dias.

Como está sendo feita a reabertura do comércio nas principais cidades do país?

Cada estado brasileiro está adotando medidas próprias para a reabertura do comércio e a retomada das atividades de modo geral. Isso deve ocorrer gradualmente, de acordo com o nível de infecção e a situação do sistema de saúde de cada local.

O governo de Minas Gerais, por exemplo, implementou o programa “Minas Consciente”. Nele, serão adotadas medidas sanitárias e de reabertura de acordo com a evolução da Covid-19 em cada município. Dessa forma, foram criadas três níveis (onda vermelha, onda amarela e onda verde), os quais são usados para uma flexibilização gradual, do nível restrito de abertura (onda vermelha) ao mais amplo (onda verde).

Nos estados da região Sul do país, o relaxamento na quarentena começou ainda no final de maio e início de junho. Em alguns lugares houve uma reabertura parcial, enquanto em outros, até os shopping centers voltaram a funcionar, ainda que provoquem aglomerações com facilidade.

Como resultado, Curitiba viu a quantidade de casos triplicar em junho, com o dobro de mortos. O mesmo aconteceu em Porto Alegre. Nas duas cidades houve uma retomada do isolamento social. Mas nenhum caso foi tão representativo da problemática do isolamento social quanto em Blumenau. A cidade catarinense foi uma das primeiras a reabrir o comércio, no fim de abril. Em menos de dois meses, o número de casos pulou de 68 para 951, fazendo com que as medidas da quarentena fossem restabelecidas.

Agora, depois de seis meses da pandemia e com a estabilização no número de casos, todos os estados estudam uma retomada de modo seguro. Muitas cidades já abriram o comércio, porém, os shoppings continuam fechados. Bares e academias foram liberados, desde que com uma redução na quantidade de clientes e com a adoção de medidas sanitárias rígidas.

Do outro lado, estão as escolas e faculdades, públicas e privadas. A maioria ainda está funcionando à distância, com as aulas sendo ministradas remotamente. No entanto, algumas instituições já estão retornando ao ensino presencial, total ou parcial. Para isso, precisaram passar por sérias mudanças estruturais, como um maior distanciamento entre as carteiras nas salas de aula.

Nas faculdades, ainda há um impasse entre aqueles que querem retornar às aulas presenciais e os que querem continuar com o ensino a distância. De todo modo, há o consenso de que não dá para voltar sem uma adequação de espaços, processos e das próprias disciplinas. Há que se repensar o planejamento das aulas, fornecendo subsídios para reforçar a aprendizagem dos alunos, mas os impactos da pandemia ainda devem permanecer por algum tempo.

Quando será feita a normalização integral do comércio no Brasil?

relaxamento da quarentena

Com tantos casos mal-sucedidos de reabertura durante a pandemia, acredita-se que a situação só seja, de fato, normalizada, depois que a população for vacinada. Enquanto isso, ainda permanecem as incertezas. É possível que o relaxamento da quarentena leve a uma nova onda de infectados em diversos estados brasileiros.

No momento a Covid-19 ainda preocupa bastante, sobretudo pelo grande avanço no interior e entre as populações da periferia nas grandes cidades. Essas pessoas têm menos acesso ao sistema de saúde, podendo ocorrer um número bem maior de mortes.

Além disso, deve-se considerar a subnotificação e até as divergências entre os governantes. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, só são consideradas mortes por Covid-19 as pessoas que não tinham nenhuma outra doença anteriormente. Ou seja, a quantidade de óbitos pode ser bem maior que a registrada.

Com a reabertura das escolas, os números também devem voltar a crescer. Afinal, pode ser mais difícil controlar os hábitos de crianças e adolescentes, cuja doença costuma ser assintomática ou provocar poucos sintomas. Por outro lado, os estudantes podem transmitir a Covid-19, levando o vírus para os pais e os avós, que são menos resistente, desenvolvendo formas mais graves.

Por isso, a única saída parece mesmo ser a vacinação. Por hora, existem 8 vacinas sendo desenvolvidas em todo o mundo e em estágios avançados de testes. Duas delas estão sendo testadas no Brasil, uma na Fundação Oswaldo Cruz e outra no Instituto Butantã, a partir de parcerias com outros países e laboratórios farmacêuticos.

Apesar dos resultados promissores de todas as vacinas testadas até agora, acredita-se que elas só estejam disponíveis no mercado a partir de fevereiro do ano que vem ou até no segundo semestre. Ou seja, o isolamento social ainda é a única medida efetiva para evitar a contaminação.

O fato é que, com ou sem o relaxamento da quarentena pelos governos, é fundamental que a população continue se cuidando. De nada adianta os órgãos oficiais implementarem medidas de segurança se as pessoas não respeitarem as restrições e continuarem fazendo aglomerações.

Os registros do desrespeito ao isolamento social demonstram que muitos ainda não se conscientizaram sobre a gravidade da situação. Afinal, o coronavírus já fez quase um milhão de vítimas em todo o mundo, sendo quase 150 mil só no Brasil.

Até que uma vacina esteja disponível no mercado, muitas pessoas ainda devem ficar doentes. Por isso, mesmo nos lugares em que for instituído o relaxamento da quarentena, é fundamental continuar evitando aglomerações e respeitando as boas práticas durante a pandemia, independentemente de fazer parte do grupo de risco. Somente se pensarmos no coletivo conseguiremos superar esse momento tão difícil e nunca antes vivido no país. A medicina na pandemia avançou bastante, todos precisam fazer a sua parte.

Agora queremos saber a sua opinião! Você acha que o isolamento social deve ser mantido? Como deve ser o relaxamento na quarentena? Deixe sua resposta nos comentários!

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