Medicina - prova 24/11

“Nessas horas temos que lembrar o porquê escolhemos a Medicina”, diz a acadêmica do último ano do curso oferecido pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Ana Carolina Kieling. Ela e mais outros colegas optaram em contribuir voluntariamente no atendimento presencial e telefônico nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) durante o período que transcorre a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Ana conta que estava finalizando o Estágio em Medicina da Família quando as medidas de prevenção passaram a ser implementadas com maior rigor na cidade. “A UBS é a porta de entrada para os atendimentos, e nós sabíamos das demandas. Era necessário manter a equipe organizada e à disposição da população”, afirma.

O sentimento é compartilhado pela estudante do sexto ano, Lilian Turela, cuja motivação em ser voluntária veio ao constatar que, ao invés de estar em casa, seria mais útil dentro da UBS, fazendo a diferença na vida da comunidade. “Estou quase me formando. Assim, não vou me omitir de ajudar as pessoas, que é algo que estou sendo preparada para fazer”, acredita.

Uma nova rotina

Com 20 e poucos anos, as jovens não recordam como algo marcante o surto da H1N1, em 2009. Porém, agora, precisam enfrentar diariamente um inimigo ainda mais perigoso. “Quando escolhi fazer Medicina, soube que estaria exposta a qualquer tipo de situação, mas nunca pensei que passaria por uma pandemia ainda durante a graduação”, comenta a acadêmica Natália Tissot, também pertencente ao último ano do curso.

As estudantes Natália, Ana e Lilian relatam que as semanas mais recentes foram de mudanças nas UBS administradas pela UCPel: o número de pacientes diminuiu; o álcool gel tornou-se item indispensável no balcão de atendimento e nas pias de cada consultório; as consultas de rotina previamente agendadas sofreram cancelamento e os médicos passaram a atender com Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como máscaras, óculos e luvas.

Algumas unidades conseguiram retirar as cadeiras dispostas nas salas de espera, a fim de delimitar com fitas vermelhas a distância de dois metros entre as pessoas. Pacientes com sintomas respiratórios são separados daqueles que não precisam de atendimento de urgência. Os relatos correspondem a UBS Py Crespo, onde Natália atua voluntariamente, e a UBS Areal I, onde Ana e Lilian comparecem a cada dia.

TeleCovid

Uma novidade foi a implementação do serviço de teleatendimento, disponibilizado desde o último dia 23, sob liberação excepcional do Conselho Federal de Medicina (CFM). “São demandas simples, muitas vezes somente esclarecimento de dúvidas, sendo fáceis de resolver por via telefônica”, explica Natália. A medida adotada é, portanto, mais uma que visa evitar aglomerações dentro das unidades. Nas últimas semanas, o movimento nas UBS chegou a diminuir entre 40% a 80%.

O funcionamento, segundo Lilian, ocorre a partir de uma avaliação do paciente, desde seu histórico, incluindo idade e comorbidades, até os sintomas apresentados, com atenção especial para febre e falta de ar. “Fizemos uma tabela para avaliar a evolução de cada caso, monitorando em 12, 24 ou 48 horas”, comenta.

Assim, a acadêmica conta que acompanhou, através do telefone, o caso de um senhor com sinais de uma forte gripe. “Ao ligar, ele pareceu bem consciente de que precisava ficar em casa, em isolamento social. No dia seguinte, quando retornei a ligação, ele se sentiu cuidado, assistido, mesmo a distância”, relata. Em breve, as UBS também devem oferecer atendimento através de videoconferência.

Conforme o coordenador do Núcleo de Saúde Coletiva da UCPel, professor Cayo Lopes, a comunidade pelotense como um todo tem sido beneficiada, tanto pelas medidas protetivas quanto pelo desempenho médico. “No momento que temos nossos alunos atuando de forma voluntária, seja para atendimento presencial, seja pela telemedicina, ajudando as pessoas que mais precisam, a Universidade Católica está cumprindo seu papel como uma instituição comunitária”, destaca.

Seguem os cuidados

As estudantes estão cientes que assumiram os riscos de trabalhar diretamente com possíveis infectados pelo coronavírus, mas, não impede que fiquem preocupadas com a transmissão. “Sim, me preocupa, e muito”, admite Natália. Para evitar o contágio, redobraram os cuidados. Por isso, Ana conta que lava frequentemente as mãos, separa as roupas utilizadas durantes os atendimentos e evita contato com amigos e familiares.

A atuação dos doutorandos em Medicina nas UBS administradas pela UCPel contribui para que Pelotas permaneça saudável frente à pandemia. Sabe-se que o pico da doença ainda não chegou no país, por isso a prevenção precisa continuar. “Espero que a gente consiga passar por isso de uma maneira sábia e que mantenhamos a sanidade e humanidade do cuidado frente a essa situação”, almeja Natália.

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