O mercado de trabalho para quem faz o curso de Medicina é um pouco diferente das outras profissões. Isso porque essa ainda é uma área com muita demanda e poucos profissionais no Brasil. Por conta da grande concorrência nos vestibulares, alguns estudantes acabam desistindo ou fazem outros cursos da área de saúde, mas isso tem mudado.
Diante dessa realidade, conhecer o curso e saber as peculiaridades do mercado de Medicina passou a ser um critério mais que essencial na hora de decidir seguir ou não a carreira médica. Entre as muitas possibilidades de especialização, a variação de salários e a necessidade de dedicação total durante o curso, também está a gratificação de se formar em uma profissão humanística e preocupada com a saúde do outro.
A principal fonte de aprendizado do estudante de Medicina é a experiência, a vivência da realidade dessa profissão ainda nos anos de faculdade. Pensando nisso, preparamos este artigo, ideal para quem quer fazer Medicina, porém, ainda não sabe ao certo como funciona o curso e quais as oportunidades dentro do mercado de trabalho. Boa leitura!
Como é a grade de um curso de Medicina?
A grade curricular do curso de Medicina pode variar de acordo com cada instituição de ensino. Porém, algumas regularidades são comuns nessa graduação, como a divisão em três etapas, em que nos primeiros anos se estuda os fundamentos teóricos e cria-se uma base para a próxima etapa, que é mais técnica e, por fim, nos últimos anos, vive-se a prática clínica supervisionada.
O eixo central das disciplinas é a saúde coletiva, e elas são distribuídas basicamente como descrevemos a seguir:
- 1º ano: antropologia, psicologia, morfo-fisiologia, etc.;
- 2º ano: genética, microbiologia e parasitologia, bioética, imunologia clínica, propedêutica, atenção primária à saúde etc.;
- 3º ano: farmacologia, técnica cirúrgica, medicina legal etc.;
- 4º ano: administração e planejamento em saúde, clínica cirúrgica, clínica geral, atuação em áreas específicas, como ginecologia, pediatria etc.;
- 5º e 6º anos: internato.
O curso de Medicina, no geral, é integral e deve ser todo presencial. Com uma rotina corrida, o estudante precisa estar preparado para assistir aulas em locais diferentes, além da mudança frequente da sala de aula para laboratórios e hospitais. Logo no início é possível acompanhar atendimentos e participar de consultas para conhecer melhor a comunidade e seus problemas.
A realidade hospitalar também é algo a ser vivido no início, sempre com supervisão. O atendimento a grupos específicos, direcionados para possíveis áreas de atuação acontecem a partir do terceiro ano de curso.
No quarto ano, o estudante conhece mais sobre a legislação e os processos administrativos do setor médico. As matérias relacionadas à prática da Medicina diminuem um pouco para darem espaço aos conhecimentos necessários à atuação ética e qualificada do futuro médico. Nesse aspecto, conhecer os meios legais e as formas de administrar clínicas e hospitais colaboram para a formação completa do profissional.
Nos dois últimos anos, os estágios, mais conhecidos como internato têm o foco no atendimento, como veremos mais adiante. É importante ressaltarmos que, ao final de tudo, os seguintes aspectos precisam ter sido estudados:
- compreender, para além da aula de anatomia, o funcionamento do corpo humano;
- entender como doença e saúde estão relacionadas com outros fatores, entre eles condições sociais, culturais, psicológicas, éticas e legais;
- capacidade de examinar e avaliar sinais e sintomas para um diagnóstico;
- saber ouvir e conversar com as pessoas, oferecendo atendimento ético e humanístico.
Qual a diferença entre internato e residência?
Alguns termos podem causar confusão quanto aos seus significados, dois deles são internato e residência. Apesar de a prática ser o foco dessas duas etapas de estudos de quem faz Medicina, elas acontecem em diferentes momentos.
O internato é o estágio exigido nos dois últimos anos de graduação, em que o contato com a realidade médica é intensificado. Os atendimentos em várias áreas, como vimos, é o foco dessa fase do curso, além disso, o internato faz parte da grade curricular, diferentemente da residência. Podem fazer parte do internato às seguintes opções de estágio:
- Estágio em Clínica Médica;
- Estágio em Clínica Cirúrgica;
- Estágio em Ginecologia e Obstetrícia;
- Estágio em Medicina Intensiva;
- Estágio em Pediatria;
- Estágio em Estratégia Saúde da Família;
- Estágio em Saúde Mental;
- Estágio em Urgência e Emergência, entre outros.
O internato não precisa ser necessariamente realizado no hospital escola da sua universidade, apesar de essa ser uma facilidade oferecida pelas melhores instituições. Há também a possibilidade de cumprir essas horas obrigatórias nas unidades do SUS.
Como vimos, o internato é parte da formação do médico generalista, já a residência é uma etapa posterior à formatura. Ou seja, ela é realizada pelo médico que pretende se especializar em alguma área. Assim, depois dos 6 anos, você tem o registro no CRM (Conselho Regional de Medicina) como clínico geral, porém, para ser ginecologista ou pediatra, por exemplo, são necessários mais 2 anos de residência, que acontece em hospitais credenciados para tal.
A residência médica é mais um processo seletivo que o estudante de Medicina precisa se submeter durante a sua caminhada. Lembrando que sem ela é possível atuar como médico generalista. Porém, é a especialização que acaba aumentando as oportunidades no mercado e que atrai muitas pessoas para a área da saúde.
Você poderá optar por fazer a residência em outras instituições ou no hospital da universidade em que fez a sua graduação, caso ela ofereça esse complemento na formação de seus médicos. Para saber onde vale a pena fazê-la, verifique, no mínimo, os seguintes quesitos.
- O hospital é qualificado?
- Há um complexo de saúde (SUS, UBS, laboratórios especializados, etc)?
- O número de atendimentos diferenciados é alto?
- Existem oportunidades de educação continuada?
Essas perguntas podem parecer óbvias, mas muitas universidades não se preocupam com esses pontos e não dão ao médico mais oportunidades de crescimento na carreira. Um hospital qualificado é aquele que, além de premiações, tem estrutura e certificações para diferentes áreas de atuação.
Ademais, um complexo de saúde possibilita ao residente a vivência completa e especializada. Com mais atendimentos é possível aprender muito mais, e para quem não quer parar de estudar e pretende investir em um mestrado, por exemplo, uma boa residência abre caminhos para todas essas possibilidades.
Quais as exigências para atuar no mercado como médico?
Além do registro no Conselho de Medicina, depois dos 6 anos de graduação, o estágio no SUS (Sistema Único de Saúde) é uma das obrigatoriedades de carga horária para serem cumpridas durante o internato. De olho no mercado, muitas universidades oferecem esses atendimentos em hospitais próprios ou em parcerias com grandes instituições de saúde.
Em 2016, com a aprovação da Portaria MEC nº 982, também passou a ser exigida a ANASEM (Avaliação Nacional Seriada dos estudantes de Medicina). Assim, os conhecimentos, as habilidades e as diretrizes do currículo nacional do curso são avaliados por um exame aplicado no 2º, 4º e 6º período.
A prova é aplicada pelo INEP e tem o objetivo de medir a qualidade do ensino de Medicina no país. Apesar de não ter uma média de pontos classificatória, quanto melhor a sua nota, mais chances de garantir uma vaga em residência médica, por exemplo.
Para os estudantes estrangeiros que queiram validar seu diploma no Brasil, o MEC, juntamente do INEP, aplicam o Revalida, que também é um exame para avaliar os conhecimentos desses médicos. Neste caso, autorizando-os a atuarem nos hospitais e clínicas brasileiras. As provas acontecem anualmente nas universidades públicas, com questões objetivas, discursivas e de prática.
A participação em congressos e outros tipos de eventos, como workshops, colaboram diretamente com a qualificação do profissional. Ainda na faculdade é possível participar de grupos de pesquisas, investir na produção científica, com o envio de artigos para publicação e ser reconhecido dentro da sua instituição, pelos professores e colegas, aumentando consideravelmente o seu networking, ou seja, mais chances de ser indicado, no futuro, para o mercado.
Essa é uma profissão em que poucos formandos não atuam na própria área, muitas vezes isso acontece por questões pessoais ou por conta da necessidade de assumir cargos administrativos em grandes hospitais, por exemplo. Mesmo assim, ainda é baixa a porcentagem de médicos que não a exerçam no Brasil.
O desemprego também tem um índice baixo, porém, a concentração de profissionais na região sudeste aumenta a concorrência por vagas nesses locais. Em compensação, nos outros estados do país, a oferta e a demanda são altas, chegando a faltar profissionais para atender a população de certas regiões.
Além dessas exigências técnicas, relacionadas com a formação em si, é necessário que algumas competências pessoais sejam desenvolvidas ainda na época do vestibular e, principalmente, durante a curso de Medicina. São habilidades emocionais e físicas, em que o médico precisa exercitar o corpo para manter a rotina pesada de atendimentos e plantões, além de estar com a saúde mental em dia para garantir o cumprimento do juramento de preservar a saúde humana.
Quais são as especializações em Medicina?
Mesmo depois de 6 anos dedicados à formação, como vimos, o médico ainda pode continuar estudando e se qualificando. Um dos passos mais importantes para a consolidação da carreira é a escolha de uma especialização, lembrando que essa não é uma etapa obrigatória.
Com duração média entre 2 e 3 anos, a especialização pode ser a residência, assim como pós-graduação, também vista como uma qualificação a mais na carreira. Nesse momento, o médico generalista vai conviver com médicos qualificados e experientes em áreas específicas.
Ambas especializações concedam o título de especialista, desde que o médico passe na prova de título da Associação Brasileira de Medicina. Somente com a apresentação do certificado de residência ou do diploma de pós-graduação, o especialista poderá declarar vínculo com tal especialidade.
São 54 áreas reconhecidas pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), destacamos as principais delas e suas funções.
- Cirurgia Geral: foco em cirurgias abdominais, de trauma e videolaparoscópica;
- Ginecologia e Obstetrícia: voltada para a saúde da mulher, trata do sistema reprodutor e atua durante a gravidez até o parto;
- Clínica Médica: tratamento cirúrgico para adultos;
- Medicina de Família e Comunidade: preocupa-se com o paciente em sua individualidade e na relação com o núcleo familiar e social, promovendo a saúde integral;
- Medicina Intensiva: profissionais preparados para atuarem em UTI (Unidade de tratamento intensivo);
- Medicina Intensiva Pediátrica: tratamento intensivo especializado para crianças;
- Nefrologia: foco em doenças relacionadas ao sistema urinário;
- Pediatria: tratamento de doenças que acometem crianças, além do acompanhamento do desenvolvimento infantil;
- Otorrinolaringologista: trata de doenças da garganta, nariz e ouvidos;
- Endoscopia: manuseio do endoscópio para obter imagens e analisá-las para o diagnóstico de possíveis doenças;
- Hematologia e hemoterapia: tratar de patologias do sangue, da medula e dos gânglios.
Outras especializações são: radioterapia, urologia, psiquiatria, oftalmologia, neurologia, medicina esportiva, infectologia, geriatria, dermatologia, cardiologia, homeopatia, medicina do trabalho, nutrologia, ortopedia e traumatologia, pneumologia, patologia etc.
Independentemente da área escolhida é importante que o estudante tenha afinidade com ela ao escolher. Isso porque, como vimos, é importante manter a saúde mental em dia, para tanto, é necessário gostar daquilo que faz e fazer com dedicação e qualidade. Então, se você não tem muita facilidade em lidar com crianças, não adianta insistir em pediatria, por exemplo.
As especializações são maneiras de manter a atuação dos médicos de acordo com as necessidades da população. Por isso, é importante que esses profissionais busquem se qualificar em alguma área específica, como as citadas acima.
Uma dica para quem ainda não faz ideia de qual especialização fazer é aproveitar as oportunidades que aparecem ao decorrer do curso, como eventos e feiras de profissões. Além disso, conversar com os professores também ajuda, pois eles já passaram por esse momento e sabem exatamente o que você está sentindo.
O que fazer para se destacar no mercado de trabalho?
Vimos que este é um mercado de trabalho com muita demanda e um baixo índice de desemprego, porém, isso não quer dizer que o médico não precise se dedicar para garantir as melhores vagas. Uma carreira bem-sucedida vem acompanhada do reconhecimento, por isso, separamos algumas dicas para você se dar bem nessa área. Confira!
Saia da zona de conforto
É comum que queiramos ficar perto de casa depois de formados, mas será que você está considerando a abrangência da sua profissão ao fazer isso? Não podemos negar o quão é confortável arrumar um emprego perto de casa, porém, fechar-se para isso pode ser um erro.
Ao focar sua busca por vagas na capital e nas cidades com alta concentração de médicos atuando, você poderá se deparar com uma concorrência que não existe em cidades do interior e em regiões mais afastadas do sudeste do país. Mesmo que por algum tempo, ter experiências longe de casa é uma maneira de acrescentar conhecimento e vivências ao seu currículo.
Conheça as possibilidades no mercado
Você viu que a Medicina tem mais de 50 possíveis especializações e, mesmo assim, o clínico geral ainda tem uma gama de chances nesse mercado. Por isso, desde o começo da faculdade, fique por dentro das áreas mais aquecidas no mercado, ou seja, quais as oportunidades.
É um mercado bem flexível, pois trata da saúde das pessoas, com isso, de tempos em tempos uma especialidade acaba sendo mais procurada do que outra. Contudo, mais uma vez, reforçamos a importância de fazer aquilo que você gosta e tem afinidade.
Invista em outros tipos de conhecimento
Um médico estuda muito antes de começar uma faculdade de Medicina, durante o curso e isso não muda quando a formatura passa. Nesse sentido, muitas vezes, é comum que assuntos não relacionados à saúde fiquem de fora do cronograma de novos conhecimentos para serem adquiridos, o que pode ser um problema lá na frente.
Aprender inglês, por exemplo, pode ser requisito básico para o médico que atua em áreas com muitas pesquisas sendo desenvolvidas mundo afora, até mesmo para a atuação em projetos, como o médico sem fronteiras. Além disso, cursos voltados para a oratória, grupos de leitura, também colaboram para a formação ética e cidadã desses profissionais.
Cumpra o juramento da profissão
Essa é uma profissão que oferece um status positivo no Brasil, mas isso não pode ser motivo para você colocar os privilégios da área acima do juramento feito ao se formar. Lembre-se que o paciente confiará a vida dele nas suas ações, por isso, o cuidado e o respeito com o outro devem estar acima de qualquer coisa.
Quanto pode ganhar um médico?
A opção por onde trabalhar e o tempo de atuação no mercado são fatores influenciadores do salário de um médico. Plantões, trabalho noturno, atendimento em prontos-socorros, clínica própria etc, tudo isso altera de alguma forma o valor que cada profissional ganhará no fim do mês.
Algumas especialidades são mais bem pagas do que outras, porém, o investimento para fazê-las também é mais alto. No Brasil, a cirurgia plástica está entre os procedimentos mais procurados e, consequentemente, a média salarial tende a ser alta, em torno de 18 mil reais, de acordo com a Catho — plataforma digital especializada em empregos.
O cirurgião geral e o ortopedista também acompanham a demanda de operações relacionadas a essas áreas, e estão logo depois das plásticas no ranking de mais bem pagos, com salários médios entre 14 e 15 mil reais por mês dependendo da região e da experiência do profissional.
Dessa maneira, não adianta achar que um recém-formado vai começar ganhando salários altos. Mesmo conseguindo uma vaga em instituições reconhecidas, a carreira do médico diz muito sobre o crescimento salarial dele, então, sempre será necessário buscar por mais conhecimento e manter-se atualizado.
A continuidade dos estudos é uma das formas de valorização da renda mensal, ou seja, um médico com pós-graduação pode ter seu salário até três vezes maior do que aquele que tem apenas a graduação no currículo. Além disso, no interior, às vezes, por falta de profissionais, a contratação de médicos, principalmente, no setor público costuma oferecer bons salários e, até mesmo, maiores que os pagos nos grandes centros.
Os Conselhos Regionais de Medicina são os responsáveis por garantirem um piso salarial para cada Estado. Com isso, em cada região esse valor pode aumentar, entre os maiores estão Santa Catarina e Distrito Federal, com média de R$5.400,00. Em compensação existem regiões com pisos baixos, como Goiás e Pará, que gira em torno de R$1.300,00, lembrando que o piso é apenas uma base para a contratação, ou seja, os valores podem ser maiores de acordo com os fatores que já levantamos neste artigo.
Quando um médico pode fazer carreira no setor público?
Por muitos anos o setor público não foi muito atrativo para os médicos, pois, pensando no retorno em relação ao investimento de tempo e dinheiro na graduação, os salários pagos aos profissionais não eram muito atraentes. A tendência é uma mudança nessa realidade.
Com mais incentivos dos governantes, alguns Estados e cidades chegam a pagar mais de 10 mil reais por mês, como São Paulo e o Distrito Federal. Além disso, várias leis vêm sendo elaboradas no intuito de aumentar o número de concursos públicos para médicos e, concomitante a isso, melhorar a valorização desses profissionais no setor.
Neste artigo, você conheceu um pouco mais sobre a grade curricular de um curso de Medicina, descobriu a diferença entre internato e residência, conheceu alguns dados do mercado de trabalho e aprendeu que mais do que a conquista de salários altos, o médico precisa entender a sua responsabilidade com a saúde de seus pacientes para assim ser reconhecido e consolidar a carreira, independentemente da especialidade escolhida para atuar.
A Medicina da UCPel tem entre seus diferenciais a preocupação com o futuro de seus egressos, por isso, desde o primeiro ano de faculdade, os estudantes vivenciam a realidade da profissão. Mais do que uma formação para o mercado de trabalho, uma universidade de qualidade se preocupa também com a formação de profissionais solidários e humanista.
Agora que você já sabe tudo que precisava sobre o curso de Medicina, não deixe de seguir a gente em nossas redes sociais, por lá você fica por dentro de outros artigos superinteressantes como este — estamos no Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn!